Trinta e quatro produtores rurais do Cariri tiveram a oportunidade de vivenciar trocas de conhecimento junto aos agricultores da região Centro-Sul do Estado. Através das ações do Programa Uma Terra e Duas Águas, contando também com o apoio do Instituto Elo Amigo e da Associação Cristã de Base, a caravana visitou quatro comunidades diferentes, onde pode observar o êxito das experiências desenvolvidas pelos trabalhadores do campo naquelas localidades. O contato com as novas práticas de convivência com o semiárido trouxe boas lições e deixou muitos exemplos, tanto ao grupo de produtores visitantes como às famílias agricultoras, onde as implementações estão em pleno desenvolvimento.

Na comunidade do Riacho do Meio, a 48 km de Cariús, acompanharam duas propriedades, a de Dona Teresinha Pereira e a de sua nora Edileusa, nas quais as famílias foram beneficiadas com a cisterna calçadão com capacidade para armazenar 52 mil litros de água.Com a captação das chuvas do último inverno, foi possível durante o longo período de estiagem, dispor de água suficiente para o consumo dentro de casa, dar de beber ao rebanho e ainda aguar os canteiros de hortaliças do terreiro, onde também crescem árvores frutíferas, como pés de laranja, maracujá e mamão. O quintal agora verde destoa da paisagem ressequida que cobre a região na época de seca.

No uso das implementações as agricultoras de Cariús aprenderam a desenvolver a criatividade e aproveitaram o paredão da cisterna para fazer um canteiro econômico, com cebolinha e tomate. A dona da casa Teresinha foi beneficiada com o uso da água da cisterna calçadão, para a produção de tubérculos.Com a plantação bem abastecida, ela pode também comercializar o excedente, “agora como a água sobra pra roçado, consigo vender até 30 kilos de macaxeira por dia” conta a produtora.

No sítio Itans o destaque foi a produção orgânica do o senhor Zezinho, onde o cultivo de fruteiras e hortaliças e o manejo do solo seguem os preceitos da agroecologia. Ele contou que conseguiu abandonar as antigas práticas, como as queimadas e o uso de agrotóxico. O agricultor foi vítima de doenças por causa dos venenos que aplicava na plantação, “cheguei a me intoxicar e tive problemas de pele, hoje sei que tenho que pensar no que estou produzindo, no que vou me alimentar. Se produzo com veneno, vou comer o que? Então, trabalho para que o produto seja bom, pra mim e pra os outros que vão se alimentar dele. Minha visão de prática produtiva mudou completamente, trabalho hoje para viver mais, melhor e com vida saudável”.

Os ensinamentos de Zezinho permitiram uma tarde produtiva para os que tiveram oportunidade de adquirir novos saberes. Questionado por um dos visitantes sobre qual seria a melhor maneira de combater as pragas, ensinou que o melhor inseticida natural é manter a biodiversidade, pois,como conta, foi cultivando várias espécies que conseguiu prevenir os ataques às plantações na propriedade. “A terra precisa ser trabalhada para ficar do jeito que nós precisamos , toda terra é boa, só precisa do cuidado que ela merece”.

Em Quixelô, no sítio Chapada, foi possível observar o beneficiamento de oito cisternas de enxurrada e conhecer a experiência da agricultora Creusa de Sousa, agora ela tem água de qualidade no quintal de casa, mas antes a buscava a duas léguas de distância. “Pra mim foi uma benção do céu. Esta cisterna é um presente que vai se multiplicar pra meus netos”. A produtora e também pedreira no Cariri, Zenilda Alves, observou "além de ser grande e bem estruturada, a implementação, quando concluída, será uma obra que servirá pra muitas gerações. Esta foi a primeira vez que a turma de produtores e trabalhadores do Cariri conferiu de perto o desenvolvimento desta tecnologia.

No sítio Tinguijado em Cariús o público visitante aprendeu e também ensinou. Os produtores locais descobriram como é possível limpar a água da cisterna com sementes de muringa e ensinaram aos agricultores do Cariri uma receita de defensivo natural que utiliza sementes de angico.

Souberam também que da mesma forma que acontece nas outras regiões do Semiárido, os incêndios nesta época de seca tem ameaçado as espécies nativas de plantas e animais no Tinguijado. Por isso, o alerta contra a prática de queimadas e a conscientização foram reforçados entre os produtores.“As vezes o povo acaba com tudo pra plantar. Eu pretendo nunca mais deixar ninguém queimar nada e cultivar mais plantas nativas, aprendi que assim, sem queimar, preservamos a terra” diz a produtora de Abaiara Cícera Furtado e a parceira Zenilda completa “Gostei da parte que conversamos sobre a importância da biodiversidade para evitar as pragas e o manejo com a terra. Deixar ela descansar entre os plantios e ter várias culturas em um pedaço de terra é bom, porque usa menos espaço”.

A agricultora Neide da Silva compartilha o mesmo pensamento das colegas “Aprendi que não devemos maltratar a terra mas sim alimentar ela e não colocar mais veneno porque prejudica a mim e a terra que vai produzir. Antes eu colocava veneno no milho e no feijão, mas vi o caso do agricultor que se contaminou, eu não vou usar mais, porque percebi que faz mal a saúde da gente”, completa. Para os produtores, o intercâmbio proporcionou lazer, fraternidade e sobretudo aprendizado. Cada participante elaborou novas ideias e iniciativas, a partir daquilo que teve oportunidade de ver, sentir, perceber e compartilhar. Cada um saiu da visita com a nova responsabilidade de semear conhecimento.